domingo, 18 de maio de 2008

TESTEMUNHOS



A GRANDE AVENTURA FOI SUCESSO

TESTEMUNHOS

Jorge Amaral

· Expedição Lisboa Bissau

«A madrugada ainda estava um pouco alta, o frio sentia-se nas faces o abraço a Leonor Lima fugaz e sentido disparou-se-me como se não visse uma amiga há muitos anos.

Todos estavam desejosos e sedentos desta missão. José Periquito um humorista nato guardava-me as chaves do carro que me levaria de regresso a casa mais tarde após a missão

As máquinas estavam ok, equipamentos ok, e depois das 1ªs fotos e da chuvinha fria e fininha ok também e o adeus até breve ecoava no ar silencioso da noite madrugadora.

A viagem corre bem chegamos a Espanha e Tarifa Marrocos etc. e aí começam os esforços da nossa líder em dar a volta aos guardas fronteiriços que nos pedem às escancaras dinheiro e "cadeaux" prendas....

Mas num jantar em que as brochettes souberam bem, vindo de uma amiga Samira; até queimei os beiços nessa noite distraído com a beleza daquela mulher e dos seus olhos lindos...

As temperaturas em todos os seus sentidos e limites começam a fazerem-se sentir. Os míseros 20 graus portugas sobem em disparo para os 35 e mais tarde 40 e 47 graus. O nosso esforço não foi em vão a nossa missão foi um êxito total as caras cansadas mas felizes faziam acreditar num futuro que para aquelas crianças não parece existir.

A ruína é total, falta tudo, pedem-nos tudo, sorriem e estendem-me o braço mais fininho para conseguir obter um prémio.

Aqui os apoios Lusos a Bissau são dissimulados com sorrisos de apoios de Caritas que poderiam fazer imensamente mais para o que estão lá a ganhar individualmente.

Os medicamentos que cá vão para se destruir na incineração com validades de 1 ano poderiam ir para Bissau pois fariam e fazem falta lá, aqui destrói-se por meras politicas economicistas sem se pensar nestes casos de extrema necessidade.

As lágrimas começam a não se conseguirem segurar, aquilo é indescritível algo surreal nunca visto. Os canais em vez de rios são esgotos, a água potável não há, os abutres sobrevoam as aldeias, nas tabancas as carnes dependuradas alimentam moscas e pessoas, mas assadas sabem bem do pior que mais sabe mal.

Fiquei diferente a experiência modificou-me mas não me tornou indiferente.

A Leonor é de garra, resposta na ponta da língua de uma forma pressionada pela sua batalha e de todos, gostei de a ter ao lado, uma mulher como há poucas. Adorei-te Leonor.

País desgraçado, um Hospital despojado de logística para tratar doentes de HIV, Lepra ou Tuberculose, onde os cateteres quase não existem e fazem imensa falta, onde uma garrafa de soro pode fazer toda a diferença onde a agua é um bem essencial e nós países ocidentais mais ricos desperdiçamos tanta!...

O Frei V. Henriques médico em Cumura transmitiu-me um sinal, esperança num futuro perdido em Bissau. No seu olhar vi sofrimento tristeza mas esperança ao mesmo tempo.

As Irmãs Franciscanas Hospitaleiras foram de uma graça constante e muito esperançadas também. Não via nada semelhante a não ser em filmes de ficção mesmo assim isto supera qualquer filme de ficção dos mais consagrados...

Estivemos ao mais alto nível fizemos o nosso melhor (pouco), mas uma coisa é certa e foi unânime entre todos, Nunca mais seremos os mesmos no nosso regresso!...

Obrigado Leonor, José Periquito, Paulo, Fernando, Pedro, foram estupendos.

A nossa Leonor diz "NUNCA MAIS" , mas eu digo até uma próxima . Ainda hoje ao ver as fotos não me contenho e deixo correr os meus rios na esperança de inundar aqueles canais necessitados de muita água muita esperança muito amor e muita vida.
Descemos ao inferno sem dúvida, mas até o inferno pode ser o céu basta nós querermos.
Obrigado. »



Paulo Barata «O PUTO» (como alguém chamou)

TESTEMUNHO

Que mais há a dizer quando já se abordou quase tudo, sobre o grupo um reparo par os desistentes: (PÃO, SALSICHAS E ROCK and ROLL) mas estão perdoados pois também estava contemplado quem quisesse saltar borda fora.

Pareceu-me que quem se encontrava mais deslocado era o Jorge, mas acabou também por se habituar e desenrascou-se à altura dos acontecimentos.

A crise com as cucarachas deixou-o um pouco transtornado, mas soube se safar com um pouco de sofrimento à mistura.

Saudades, sim, muitas não só por aquilo que fizemos mas também pelo espírito que se criou entre uma quadra de pessoas que mal se conhecia. Outras como eu, só conhecia o Periquito de cauda vermelha como alguém o apelidou, mas depressa percebi que todos estavam no meu terreno e com os mesmos quereres.

O Periquito que há a dizer???? Não me ocorre nada de relevante negativamente, sobe aguentar a máquina com todas as suas forças, claro que me refiro aquelas que nem ele sabia que existiam, achou, não o disse, mas acho que lhe li os pensamentos que podia estar a por em risco a missão devido ao jipe, mas como se iria provar o TOYOTA vem para ficar, vai e vem sempre.

Claro que me estava a descuidar e a esquecer de cada vez que olhávamos um para o outro de manhã era um fartote eu de máquina em punho e ele de cabelo todo arrepiado, largada de gargalhada que fartava.

A pois só me faltava essa sair-me na rifa .
Uma mulher como muitos homens gostariam de ser, determinada, incompreendida em algumas alturas, ciclone com tudo e todos, soube vencer os medos que estavam na sua cabeça desde o principio, os receios de que pudessem as coisas correr menos bem, mas também o (puto) não ia deixar que as coisas descambassem de qualquer maneira.


Só eu sei que as horas da telenovela não significavam só cansaço e moleza, o peso da responsabilidade pairava no ar, e alguém que não falha (ou não gosta de falhar) também tem esses momentos de descontracção.


O acordar sempre disposta a falar para ver se estava tudo bem comigo o por creme era uma constante a dada de água também, mas estava quase sempre tudo bem.


Sobre a missão que mais há a dizer, cumprimos o nosso plano soubemos nos manter firmes na determinação, não vacilamos de qualquer maneira e nem quando achamos que cheirava a negocio ou falta de vontade sobre as nossas sementes (projecto 917) soubemos ajuizar com calma e ponderar todos as aspectos, para mim não houve erros.

Pois certo que havia muito mais para dizer, mas por agora é tudo, espero que nos vejamos brevemente pois as saudades já são algumas.


Um reparo: Este testemunho só ficará completo com das menções especiais:
- o serviço do cafezinho em andamento
- as visitas da à traseira do land-craizy
- e porque será que o Land foi alcunhado de «birdmurder»?
- qual será o significado de porc espinho (algum animal em mutação)?



José Periquito



Tudo começou com um e-mail enviado pelo ForumTT noticiando “ Voluntários precisam-se para 5ª Missão Humanitária a Guiné-Bissau “ um nome familiar Leonor Lima.

Isto faz despoletar aquela vontade de partir. Aventura pura, objectivo definido. Estabelecido contacto com a organizadora, são conhecidos os contornos da viagem:

Quem, como, quando são perguntas para respostas que esperamos obter, uma breve conversa ao telefone e tudo começa a encaixar, um puzzle de muitas peças que se vai completando.

Contactos, telefonemas, dúvidas, receios, noites em claro, tudo fervilha na mente como um chá, à espera de ganhar cor. Sim é um tónico para o corpo, espírito e ego. Partilhar e viver esta ventura de 18 dias com 6 pessoas, muitas delas ir-se-ão conhecer durante a viagem, é no mínimo diferente, arrojado, e muitas vezes, arriscado.

Entrar e percorrer África é um desafio constante para todos os sentidos. Divididos em três viaturas, todo-terreno, enfrentamos um clima hostil, carregados até ao tecto de bens cobiçados ( Medicamentos, alimentos e mimos ). Conseguimos chegar a Bissau após 4800 Km de pequenas peripécias algumas insignificantes, outras indescritíveis que juntas criam a história, agora de uma equipa com vontade inabalável, consciente de ter cumprido uma missão, ainda que pequena, ajudou a aliviar a fome, a dor, a indiferença sentida por estes povos esquecidos.

Já em Bissau quando nos preparávamos para um merecido almoço na Pensão da D. Berta um toque nas costas “ O que estás aqui a fazer??? “ era o Júnior, um amigo de muitas conversas anteriores em que tínhamos discutido África. Ali estávamos os dois, ele em Comissão no âmbito da Cooperação Portuguesa e eu não queria acreditar:

“ Como o Mundo é pequeno! “.

Um regresso atribulado se advinha mudança de percurso é obrigatória após a tareia vivida ao contornar a Gambia no Senegal por Tabakunda. Essa estrada nunca mais.

Apesar da incógnita arriscamos a travessia da Gambia. Metralhadoras apontadas e CEFA(s) sempre a pingar, mereceu o risco. Um desentendimento em Dakar e uma viatura separa-se do grupo. Mas a viagem de regresso é longa e voltamos a encontrar-nos. Em Agadir, no BJ40 ouvem-se uns estalos na suspensão, mais uma chatice e a preocupação não deixa seguir.

Vamos a uma estação de serviço para atestar as máquinas e verificar o nível da valvolina e aproveitamos para apertar e verificar a suspensão. Azar um dos parafusos em U que aperta as molas ao eixo está partido. Depois de uma manhã perdida, conseguimos uma peça compatível e partimos. No caminho para Marrakech cruzamo-nos duas vezes com dois motards portugueses ( Nuno e João ). À entrada da Cidade acenam-nos e convidam-nos para beber um sumo de laranja, troca de experiências e de trajectos, iremos voltar a encontra-nos à noite em plena Praça Djemma El-Fná.
“ O Mundo é mesmo pequeno!! “.

Muito mais haveria para contar, foi uma viagem fabulosa. A Leonor “ El Capitain “ disse “ Esta é a minha última Missão “. Pessoalmente convencido que outras se seguirão, não és mulher de baixar os braços e estarei disposto a acompanhar-te outra vez.


Leonor Lima (La Capitaine)


• E DEPOIS DO ADEUS

«Máquinas e Homens» exaustos e cobertos de pó mas exuberantes de alegria com a satisfação de ter sido superado mais um grande desafio e concluída mais uma Missão com pleno sucesso, estão já de volta ao seu quotidiano.

É tempo de avaliar todo o esforço da preparação, a determinação de vencer carências e dificuldades, o enfrentar das imprevisíveis situações que já se adivinhava virem a surgir.

Mais penalizante que os 46ºC, a passagem das diversas fronteiras, o carimbar dos passaportes, pagar, pagar, pagar sempre e tudo, o controle policial, as metralhadoras apontadas, a caça ao dinheiro pelo velho truque do excesso de velocidade ou falta do cinto de segurança, evitar o vasculhar dos carros, a deficiente ou fraudulenta emissão de documentos, tudo conduz a um desgaste quase exasperante dos expedicionários.

Valeu a pena!

Fizeram-nos sentir insignificantes, foi apontada a exiguidade da nossa ajuda perante as imensas carências daquele País, mas o «nada» que nós levámos seria muito se somado a muitos «nadas» de quem nos critica. E esse «nada», arrastado através de uma Africa voraz de todos os bens materiais, foi, para quem não despiu a camisola antes de a ter vestido, compensação suficiente para riscos e cansaço.

Valeu a pena, sim! Não fora por mais nenhuma razão, bastaria o reconhecimento do responsável pelo Hospital de Cumura. Foi preciosa a nossa ajuda em medicamentos. Frei Vítor Henriques, um médico notável que dedica a sua fé e sabedoria a cuidar de homens e mulheres doentes.

Num espaço limpo e acolhedor são acolhidos doentes com HIV, tuberculose e lepra; se uns conseguem ainda ser curados ou minimizado o seu sofrimento, outros encontrarão o seu fim com dignidade e menos dor.

Nós vimos, nós estivemos LÁ, acompanhados pelas nossas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras. Estas mulheres notáveis pela sua abnegação pouco mais podem fazer que gerir as suas escolinhas, alfabetizar uma multidão de meninos e meninas e apoiar as famílias das «tabancas» ao seu redor com o muito pouco que vão conseguindo angariar.

É confrangedor avaliar os desperdícios de uma sociedade de consumo perante a míngua de seres humanos num país onde os animais de alimentam de papel e sacos de plástico. Por «nada» que seja, fica o desafio para juntar muitos «nadas» e multiplicar a entrega de bens essenciais a estes voluntários para que consigam realizar «os seus milagres» menos penosamente.

Ainda soando o último desabafo «nunca mais» parece o momento de lançar o desafio

6ª Missão Guiné-Bissau
Ami - Assistência Médica Internacional - Turma Todo Terreno e
Instituto Luso-Arabe para a Cooperação»

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