quarta-feira, 21 de maio de 2008

Capítulo 5º




CAPITULO 5º


BISSAU –A CIDADE DOS ABUTRES – ANTULA E CUMURA



Lixo, lixo e mais lixo é uma realidade constante; plástico, cartão, lixo indistinto, cadáveres de animais pela borda das estradas. Sobre todo este lixo, sobre toda a cidade, nas árvores, na beira das estradas, bandos de abutres levam-nos a sentir que espreitam se algum de nós vai soçobrar.



Junta-se a esta paisagem lúgubre a destruição provocada pela guerrilha. Além da principal avenida as ruas têm simples restos de alcatrão no meio da predominância de buracos (quase crateras), a maioria são simples terra batida que nos abafa com a poeira que paira no ar.



















O resto é destruição, o próprio palácio do governo é a mostra dessa destruição.

Nota-se uma tentativa de recuperação ao nível de apoios turísticos; hotéis equipados com captação de água e geradores de corrente.

Hotel Coimbra no centro de Bissau





Mas para além de tudo o que está mal é BOM ouvir falar português. O acolhimento e carinho daquela população aquece-nos o coração e faz-nos pensar que «valeu a pena».








AS IRMÃS E A ESCOLAS DE BISSAU E ANTULA











HOSPITAL DE CUMURA




A Irmã Eloisa fala-nos de uma obra notável – O HOSPITAL DE CUMURA dirigido pelo médico Frei Vítor Henriques


 – convida-nos a uma visita.

Este Hospital tem vindo a ser construído por fases, por um grupo de alemães de diversas profissões que utilizam as suas férias diferentes para ajudar a minorar as carências de uma tão vasta população.
Em pavilhões separados são acolhidos doentes de Hansen, HIV e Tuberculose.



O seu stock de medicamentos, material de penso e cirúrgico estava em rotura. As Irmãs Franciscanas abdicam da maior parte dos medicamentos que haviam recebido e com a nossa anuência incondicional, fazem entrega no dispensário do Hospital.
O kit cirúrgico e mais uns medicamentos específicos da mala médica de emergência da Turma é avidamente remexida e «tudo» considerado uma preciosidade pela Dra. Alice, uma voluntária já de regresso por ter terminado o seu tempo de missão.

CHOCANTE O HOSPITAL DE CUMURA

Especialmente limpo, arrumado, cheiroso – os doentes (alguns terminais) junto a suas camas, nem parecendo doentes, bem apresentados, conseguindo devolver-nos um sorriso bonito.
Uma mulher bonita de idade indefinida, ensinou como colocam os lenços as mulheres senegalesas. Sorrindo, feliz por haver visitas.



Projectos como este deveriam ser ajudados. Os medicamentos que entregámos, bem geridos como vão ser, vão ajudar muita gente por um razoável período de tempo. Se calcularmos que darão para um mês, bastaria que mais 11 grupos como o nosso se disponibilizassem para nos imitar.

Ajudar não dói nada --- desde que deixemos de olhar para o nosso próprio umbigo. Exemplo desta afirmação é Frei Vítor. Um belo homem (física e espiritualmente) médico competente, devotado a uma causa bem difícil e perigosa, mantém um sorriso e cordialidade enternecedoras. Frei Vítor fez-me chorar…

Será possível imaginar quanta coragem é necessária para tranquilamente informar um doente e seu pai de que --- não há cura --- está estabilizado mas não há mais nada a fazer e--- não voltará a andar. Simplesmente arrepiante!
Mas é com certeza muito compensador poder afirmar que salvou da doença de Hansen (lepra) um menininho de talvez 8 anos.
Detectou a tempo a insensibilidade em vários locais do corpo do menino, testa, face, antes de haver necroses. As manchas começam a desaparecer e o menino vai ser curado sem ficar com o estigma desta doença, as amputações.
Frei Vitor, eu que sou descrente peço: mantenha a sua fé inabalável, aconteça o que acontecer. Há necessidade de muitos Frei Vítor para minorar o sofrimento da humanidade

SAIDA DE BISSAU

3ª dia: abdicámos da carilada da D. Berta e metemo-nos à estrada, não sem mais uma cena de copiosas lágrimas da nossa amiga, logo a seguir ao pequeno almoço no Hotel Coimbra e umas últimas comprinhas.



Grande mulher a D. Berta, um padrão português em Bissau, homenageada por altas individualidades pelo seu bem-fazer. Viúva de um português ajudou e salvou muita gente na época da descolonização.

Está na hora de partirmos; todos nos chamam de LOUCOS por empreendermos a viagem de regresso por terra --- onde estaria o desafio de embarcar os jipes num barco e regressarmos comodamente de avião em poucas horas?

Tomamos conhecimento da situação de Casamance, sobre a Gambia e se estão operando as barcaças de S. Vicente e S. Domingos. Decidimos cumprir o itinerário inicial e regressar pela costa.

Câmbio de Euros em CEFA's, abastecimento das viaturas e aí vamos direcção  à ponte João Landim sobre o Rio Mansôa (ou Ponte Amilcar Cabral, construida com financiamento da UE)



que eliminou a espectacular e  velha barcaça a que um dia, em tempos passados) se esqueceram de meter óleo,



Ultrapassado o Rio Mansôa, segue-se S. Vicente no Rio Cacheu em jangada de «meter medo a um susto».

















Pela Soares da Costas está em construção terminal uma ponte que vai ligar a Guiné-Bissau ao Senegal. O nosso companheiro Soares Periquito encontra um amigo da administração da obra mas a passagem não nos pode ser franqueada por razões burocráticas.



Usa, no entanto, os seus  privilégios e pagando  um excesso no bilhete de embarque e, ultrapassando uma coluna de veículos de toda a espécie, embarcámos logo na primeira jangada  mas sem que primeiramente não tenhamos tido que esperar porque a sua tripulação almoçasse.

A chegada a Ziguinchor sem incidentes; um motel no meio de um parque,




 uma piscina em obras, muita bière fresquinha a acompanhar um jantar gostoso e depois, uma noite tranquila. Bem necessária essa noite tranquila; amanhã vamos voltar à «dança» das fiches police» dos cachets, da police, gendarmerie e douane. Haja paciência!!


2 comentários:

Miguel Oliveira Mendes disse...

Realmente são duas versões completamente diferentes...
Pena só mesmo a deturpação de alguns factos como a visita ao hospital de Cumura, o episõdio da procura de hotel em Daklha, o comentário sobre o abastecimento de combustivel em Thies (Entrada de Dakar),mas como fez questão de frisar, não nos conhecemos mesmo.

Continuação de boas aventuras.

Miguel

Miguel Oliveira Mendes disse...

Ema relação aos comentários sobre o BJ 40 do Zé, não há nenhuma referência depreciativa da minha parte, muito pelo contrário.


Miguel